segunda-feira, 19 de novembro de 2012

"EU ME SINTO ESTRANHA"


Esta foi a afirmação "Eu me sinto estranha"... comentário e pedido de socorro que recebi de uma leitora, forma usada por ela para definir o momento que vive, a caminho dos 50 anos. 

Uma fofa, uma querida. Encontrou este meu espaço de terapia digital por ter recorrido a São Google das causas perdidas sobre os sintomas da pré-menopausa. 

Segundo ela, tem lido tudo aqui, "devorando". Isso me deixa muito feliz, ser lida por mulheres de todas as idades. Tenho muitas amigas bem jovens e elas também "devoram" meus textos (modéstia à parte).
Então... estou em falta com várias leitoras e amigas e até com alguns amigos antenados em entender o que ocorre com uma mulher à beira de um ataque de nervos, ops...quer dizer, à beira dos 50, fase denominada PRÉ-MENOPAUSA ou climáterio. 

Isso é muito bom, pois indica o quanto estamos todos preocupados em viver melhor, em ser cada vez melhor resolvidos em cada fase da vida.
Tudo começa a partir do momento em que você faz 40 anos. Duvido que haja uma mulher que não tenha começado a se sentir meio "estranha": filhos crescendo, carreira mais ou menos consolidada, casamento estabilizado (crises iniciais superadas...), enfim, os arroubos dos 30 passaram e você entra na popularmente chamada "idade da loba". Loba boba, em muitos casos. Loba cansada de guerra.

Ao completar 40, logo no mês seguinte, comecei a sentir sintomas estranhos e terríveis de taquicardia, dor no peito, falta de ar. E não apenas quando via o George Cloney ou o Banderas dançando tango, mas sempre, o dia todo com o coração querendo saltar pela boca. Graças ao bom Deus minha pressão deu sinal. Excluídas suspeitas de problemas na tireóide (que causam estes sintomas), o diagnóstico foi preciso: hipertensão, medicação para o resto da vida, mais lazer, menos stress, menos sal, mais atividade física. E uma fala determinante do médico: "Seus dados não batem...colesterol, glicose, triglicérides...tudo ótimo, mas a pressão...". Menos mal, poderia ser pior. O emocional falou mais alto (ele fala sempre).

Eu já morava em Itaúna, havia acabado de me mudar e de perder meu pai. Liguei logo pra minha mãe e ouvi: "Faça como eu: tome o remédio todo dia direitinho, não põe minhoca na cabeça e procura fazer uma coisa que você gosta...eu gosto de fazer crochê e você? Vai escrever poesia, vai ler e passear.E não fica sem batom. Mulher não pode ficar sem um batom não, batom dá vida." Ai ai...minha mãe era demais! E devo a ela minha boa relação com o climatério, pois ela sempre dizia: "Cuidado, eu engravidei de você justamente nessa fase e nunca liguei pra esse trem de menopausa, a vida começa é ficar melhor depois dela." Essa era minha mãe, Mariana Costa Marçal.

O estranhamento começou com este evento: uma doença crônica importante. Neste período passei em dois concursos públicos, ganhei dois prêmios estaduais inéditos para a cidade que me acolheu, participei da elaboração do Plano Decenal de Educação do município, fui trabalhar na roça (amei...), fui convidada para um importante projeto de combate ao fracasso escolar, ajudei muitos itaunenses a passarem de ano e em concursos, fiz mais de 200 monografias para mineiros e até paulistanos. Um pique louco de trabalho. Toda a energia focada nele. E o resto...dormindo. 

A partir dos 45 veio a realização de um sonho de criança: usar óculos! E a festa de armações e estilos começou! Dá-lhe Pierre Cardin e promoção de óticas. E o estranhamento começou a pesar, deflagrando uma depressão: estranhamento da vida e do sentido dela. Perda total da libido, dos sonhos e do desejo de viver. Perda das cores e do brilho no olhar. Foram anos assim...Mas os hormônios sempre normais, como ainda estão até hoje. (E segundo minha ginecologista e "terapeuta": não há sinal de menopausa, mesmo porque atualmente é tendência o climatério mais longo e a menopausa, tardia, ou seja: o estranhamento dura mais). A boa notícia é que você pode entendê-lo, olhá-lo de frente, sem lentes de aumento e sem desprezar as mensagens que ele te envia.

Diagnosticada e tratada a pão-de-ló minha deprê querida (devo a ela muito do que me tornei, mudanças pra bemmmmmm melhor!)...então o estranhamento virou questionamento. "PQP de rodinha", como diz um amigo meu. Comecei a querer mais da vida, a querer mais do amor, do sexo, do trabalho, dos filhos, do marido, de mim. Tomei consciência de que não tinha vida própria: vivia para o trabalho, para ganhar dinheiro, para o marido e os filhos. Normal? Não...quem disse que eu me contento em ser normal? Onde está escrito que a vida tem que ser só isso? Que toda a alegria e estímulo têm que vir de uma só fonte?

Ao mesmo tempo comecei a me cobrar menos, a cobrar menos da faxineira, a passar menos os dedos pra ver se tem ou não poeira nos móveis, porque a poeira que me interessa é a minha própria...poeira nos meus sonhos, desejos, necessidades. Comecei então a ver coisas que não via, a me entender mais profundamente, a querer viver novas experiências. 

Comecei a sentir falta de ter a MINHA vida, os MEUS amigos, pois os amigos e amigas do meu marido já não me completavam, uma vez que meu estranhamento estava aflorando versos, reversos, avessos. Flores. Passei anos e anos cultivando as amizades do meu marido...professores, diretores, enfim, todo o quadro pedagógico e administrativo das escolas em que ele trabalhou; a maioria são nossos amigos até hoje e digo isto com alegria e gratidão. Mas...

Mas...o corpo mudou, junto com a cabeça. Começaram as tinturas de cabelo quinzenais, as mamografias de dois em dois anos a partir dos 40, passaram a anuais depois dos 45. Começou uma amizade de infância com minha revendedora Avon: toda a linha renew, tratamento anti-sinais, vamo no popular: rugas, rugas...mas e aquelas que se instalaram na alma, como dar jeito nelas? Eu procurei meu caminho anti-estranhamento e me achei aqui, neste blog, neste espaço que é só meu, onde brinco sozinha, falo sozinha, amo sozinha, me comunico com pessoas que não conheço e conheço muitas, incríveis. Pelas quais acabo me apaixonando e criando laços, criando pontes.

Perdi a cintura, ganhei celulite, cabelos brancos, a textura da pele mudou, a bunda aumentou e mudou a forma (bunda é um patrimônio e isso eu não perdoo mesmo...que ódio). E tudo isso acentua o estranhamento, a sensação de que o tempo passou mesmo e você não se realizou, não amou tudo o que tinha pra amar, não degustou a vida como deveria ter feito, como poderia...

A maternidade foi maravilhosa e plena, mas ao ver os filhos começando a viver a vida deles, você se pergunta: cadê a MINHA  vida? Onde estão os meus interesses, os meus projetos, os meus sonhos? Onde foram parar? Cadê os livros que eu queria escrever, os lugares que queria conhecer, cadê a eterna novidade do viver e ser tudo que eu puder ser?

O estranhamento é a ficha caindo e isso é maravilhoso, sinal de que você está viva e atenta ao que ocorre dentro de você e ao seu redor. Você não está pirando na batatinha, viajando na maionese (e se tiver, aproveite, relaxa e .....sim, goza mesmo, aprenda a gozar de novo e a experimentar seu corpo em mares nunca dantes navegados). Não tenha medo do que seu corpo pede, do que sua alma clama. Não é loucura querer ser feliz de um jeito diferente. Loucura é pensar em se matar porque a vida ficou cinza e você perdeu aqueles a quem mais amava. Loucura é querer que um carro te atropele pra você parar de sentir a dor da existência. Isso sim é pirar. 

Lido com meu estranhamento hoje com muita tranquilidade. Os hormônios estão a dois mil por hora, ciclo menstrual começando a desregular (engravidar nessa fase é um perigo), tenho sorrido muito mais que chorado (embora o choro quando ocorra seja pelos motivos mais absurdos, às vezes sérios, como pela saudade da minha mãe no dia das mães, mas também porque fui magoada por uma fala atravessada ou seca, de alguém que amo). Enfim, o riso é intenso e o choro também. Como na adolescência. Issooooo! Agora traduzi: na pré-menopausa você se sente e muitas vezes se comporta como uma adolescente. (E isso é tãoooooooooooooo gostoso....rsrsrsrs).

Cabe a você impor seus próprios limites, segurar com mãos firmes as emoções a fim de que a razão possa ser sempre superior e entender que viver é mesmo esse descuido prosseguido: o que tiver que acontecer na sua vida acontecerá, mesmo que você não procure, não busque. Cabe a você, somente a VOCÊ as decisões se vai se abrir para novas experiências em todas as áreas da sua vida ou se vai chorar a juventude perdida, os assobios da rapaziada e aquela cara lavada que você podia ter e se achar linda mesmo assim. 

Olhe-se no espelho agora...mas olha bem...sem estranhamentos, mas com a intimidade de quem aprendeu e se conhecer, a conviver com seu corpo, sua pele, seus cabelos, sua natureza feminina que nunca se calará, se você cuidar dela. Se você entender que não é o fim do ciclo reprodutivo, o fim dos seus objetivos. E os sonhos vão voltar a povoar o seu imaginário. Então, o estranhamento virará certeza de muitas coisas positivas e muito prazer de viver. 

Até a próxima, meus queridos!

8 comentários:

  1. Valei-me santo Deus! Essa menina tem o dom de me ver sem me conhecer. Que diabos eh isso, parece que sou eu pensando, com excecao das maravilhas q te fazem enxergar q existe alguma coisa boa nesse declive. Agora vc me deu coragem pra ir atras de algo q sempre quis...ir p um SPA...nao so p emagrece, nao, mas p pensar so em mim...qiero me encontrar, buscar essa nova eu...obrigada pelo seu blog, vc eh a CARA. Depois te conto do SPA. Bjos...Luiza

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  2. Esse eu não tinha lido ... Adorei ... me vejo em muito do que vc descreve. Fiquei feliz em saber que não sou uma extra terrestre nem um caso isolado a ser estudado ...
    Bjokas

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  3. Querida Té, foi com este post que eu te achei.Obrigado São Google! E...aos Anjos que estavam atentos nesse dia...era a hora de cruzar minha vida contigo amiga!!!! Beijo da Portuga!!!

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    1. kkkkkkkk É verdade, minha linda!!! E quando o postei novamente ontem li seu comentário aqui e me lembrei...e na época eu nem respondi...kkkk me perdoa, eu devia estar num mau dia...mas o fato é que nos tornamos amigas, irmãs, eu diria....uma sintonia incrível entre nós e nossas vidas. Esse post é histórico pra mim, foi com ele que coloquei pra fora tudo o que vivi com relação ao climatério e a depressão. Hoje, ambos estão controlados e o climatério continua, mas aprendi a lidar com os sintomas e o melhor de tudo foi a libido ter voltado e com muito mais força. Meus orgasmos hoje nem se comparam aos de antes....kkkkkk acho que isso é florescer....ainda sou uma flor nascendo, mas eu chego lá...sei que um dia, por descuido do destino, a primavera virá. Beijos, querida.

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  4. Tê Marçal,
    Ao ler este texto fiquei sem fôlego! Frio na barriga, susto, emoção, descoberta, sei lá!
    Como vc. consegue descrever de forma simples sentimentos tão complexos...
    Não consigo aprofundar no meu comentário, pois vou ter que relê-lo trocentas vezes primeiro...
    Um abração,
    Rosilane.

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    1. Ahhhhhhhhh que alegria, que honra, que prazer em tê-la aqui, minha querida amiga, passe o tempo que passar...sinto saudade demais das nossas conversas e espero que possamos retomá-las em muito breve, porque ter sua amizade e carinho fazem toda a diferença na minha vida. Temos muito a colocar em dia...viu? Muita coisa aconteceu desde que escrevi este texto...desde que tive essa tomada de consciência. Obrigada pela visita, agora que aprendeu o caminho, volte sempre! Abraçãoooo, minha linda.

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  5. AAHH TÊ, vida é o que acontece entre uma coisa e outra!!! grandioso este texto, amei!! sabe q da ate pra pensar q na verdade a vida acontece entre um hormônio e outro então!!! são fases, na adolescência alguns hormônios estão "explodindo" , é um fogarel só!!!tudo acontece, tudo muda, corpo fica mais modelado, cabelo muda a estrutura, o rosto enche de espinhas, mas a vontade de ser "o dono da razão" e o "sabe tudo" é o que mais lidera nessa fase, enfim, queremos abraçar o mundo, mas mesmo assim nos sentimos "um bicho grilo", lembra dessa? na fase adulta, o trabalho é tudo na vida, afinal pensamos em ter, depois, uma "velhice" tranquila...ahhh e ai chega a fase de mudança de hormônios oposta á adolescência, o "fogarel" apaga, o bicho grilo se sente um ET, e tudo tem outro sentido, mas acho q ai a pessoa já esta mais tranquila, sabe o que realmente quer e importa de verdade, os valores e conceitos são outros, as vezes não ter razão é melhor que "um circo armado", não precisa abraçar o mundo, pois o melhor é ser abraçada por aqueles que habitam o mundo, e ai nos perguntamos : o que é ser normal? sera que sempre fui normal, e é bom ser normal?? Adorei a frase : "Normal? Não...quem disse que eu me contento em ser normal? Onde está escrito que a vida tem que ser só isso? Que toda a alegria e estímulo têm que vir de uma só fonte?" é isso ai, sabias palavras, e que so poderiam ter sentido nessa vida depois de mta, experiência, mtos momentos felizes, mas mtos tombos também, enfim os revezes da vida!! e sabe de uma coisa, pra mim não existe idade, e sim "pessoas que sabem viver" idade deveria ser contada dessa maneira, garanto q mtos mesmo com 100 anos ainda teriam 10 anos, e alguns com 45, que vivem intensamente já teriam mais de um século!!! a base é essa : conhecimento X ignorância!!
    Tê, mais uma vez, parabenizo vc pelo Blog, pelo novo Grupo, e obrigada por estar sempre passando essa "cultura", esse conhecimento e sabedoria, que somente vc com essa simpatia, delicadeza e graciosidade sabe passar a todos que leem seus textos!! PS : hoje é sexta feira, e a "inspiração" baixou aqui, pra comentar kkk!!! Linda amiga, um ótimo final de semana, iluminado e abençoado!!! big bjuuu!!

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  6. Que alegria, querida, ter uma amiga, leitora e comentarista de mão cheia como você! kkk Vc é uma linda mesmo, não tem jeito, seu sorriso diz tudo. Sinta-se em casa aqui e principalmente lá no grupo. Um beijo grande!!!

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